Revolução na Agricultura: Maior Drone Agrícola do Mundo é Brasileiro
Na área agrícola, o Brasil é uma grande potência relacionada a inovações tecnológicas e ao desenvolvimento de novas maneiras de auxiliar os agricultores e aumentar a produtividade. A engenharia é o principal mecanismo que permite esse tipo de crescimento, solucionando problemas e facilitando processos. Um dos grandes avanços nessa temática são os drones agrícolas, que podem auxiliar no processo de mapeamento e levantamento de safras, pulverização, semeadura e irrigação das plantações. Além disso, os drones agrícolas ajudam na questão da compactação do solo, um dos problemas que os agricultores enfrentam ao utilizarem grandes tratores. O tráfego dessas máquinas pesadas na lavoura faz com que a porosidade do solo diminua, dificultando a penetração de água e minerais no solo, resultando na perca de fertilidade do solo.
Uma das primeiras empresas a desenvolver um drone exclusivamente para a agricultura foi a norte americana PrecisionHawk, fundada em 2010, com foco na área de veículos aéreos não tripulados (UAVs) e sistema de análise de dados. Hoje em dia, o drone agrícola é visto como uma ferramenta promissora, mas continua sem muita adesão no território brasileiro. Contudo, a Psyche Aerospace, uma startup criada em São José dos Campos, São Paulo, realizou em março o primeiro voo do drone agrícola Harpia P-71 com sucesso. O drone eVTOL (Veículo Elétrico de Decolagem e Pouso Vertical) tem 4,5 metros de comprimento e 8 metros de envergadura, capacitado de voar, nesta versão, pesando até 720 kg, 160 kg de aeronave, 200 kg de combustível e até 400 kg de defensivos.
Empresário baiano de 23 anos, Gabriel Leal, fundador e CEO da Psyche Aerospace, tem interesse por aeronaves e pelo setor espacial desde a adolescência, época em que pequenos drones recreativos vieram da China. Ao longo do tempo, a paixão pela história da aviação, e de como ela mudou a humanidade, cresceu até o ponto em que ele mesmo tornou-se parte dela. “Eu queria fazer algo de algum mercado que não tivesse soluções. Os drones eram algo muito interessante porque tem menos burocracia, uma barreira de entrada menor do que a aviação convencional e se consegue desenvolver tecnologias tão boas quanto” relata o fundador.
A Psyche Aerospace, na primeira rodada de investimentos, recebeu um aporte de R$ 15 milhões de reais. A rodada foi liderada por um investidor privado não divulgado. Nesta mesma rodada, a empresa foi avaliada em R$ 75 milhões de reais.
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Segundo Gabriel, a empresa utiliza tecnologia 100% brasileira porque toda a parte de manufatura, serralheria, industrial, software, hardware e o sistema de controle é feita internamente. Junto a isso, o CEO conta que existe um investimento forte em pesquisa e desenvolvimento dessas áreas e que o objetivo da empresa é justamente explorar o desconhecido. “Aqui, o que a gente e faz é pegar coisas que ninguém está fazendo, o que não quer fazer, ou o que ninguém acha que é possível e, através de muito trabalho, ciência e engenharia transformar tudo em realidade”.
SISTEMA DE FUNCIONAMENTO
O sistema de funcionamento do drone Harpia P-71, é 100% brasileiro e autônomo. De modo que toda a parte de captura de imagens, processamento, envio, tomada de decisão do que deve ser aplicado, quando e como deve ser aplicado é autônoma. Apenas em casos de risco de segurança existe interferência humana no processo de voo do drone.
Victor Galvão, atual diretor de tecnologia da Psyche Aerospace, graduado em Engenharia Aeronáutica e Espaço pela Universidade do Vale da Paraíba (Univap) com Prêmio Crea-SP, concedido ao aluno com melhor desempenho durante o curso, e mestre em Ciências e Tecnologias Espaciais, na área de Propulsão Espacial e Hipersônica, pelo ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), diz que se interessou pela empresa e suas ideias por meio de publicações. Logo no início, foi convidado pelos sócios fundadores Gabriel Leal, João Barbosa e Mateus Pedroso, para fazer parte do projeto inovador de pulverização agrícola com drones autônomos.
Dentro do projeto, além dos drones, são construídas belugas, as centrais de abastecimento dos drones. De forma simples, são grandes containers com tanques de defensivos agrícolas.
O início do sistema de funcionamento é com o drone de mapeamento levantando voo, a partir disso, ele analisa a plantação classificando os tipos de planta, de doença presente da plantação e de vitamina que as plantas precisam. A seguir, o drone passa todas as informações para a beluga que, por sua vez, começa a preparar os defensivos e misturas necessárias para o abastecimento do drone que fará a pulverização na plantação. Assim que chegam à beluga, um braço robótico os abastece. Além de defensivos, o drone também é carregado com o etanol utilizado em seu motor híbrido e com o líquido de arrefecimento, caso tenha vazado ou seja o primeiro abastecimento. O dispositivo tem capacidade de voar com 400 litros e pesa em torno de 800 kg.
A controladora do drone, que administra o equilíbrio, manda os comandos para os quatro eixos que no caso são os quatro motores. Se, por exemplo, um vento soprar e o drone inclinar para a direita, o controlador enviará um comando para que os motores da direita façam mais força para compensar a força do vento. Enquanto está pulverizando, o líquido do defensivo vai esvaziando e chacoalhando dentro do drone. Tudo isso exige uma correção de potência entre motores para manter o equilíbrio do voo o tempo todo.
O PROPÓSITO DO DRONE E SUA IMPORTÂNCIA
Segundo Gabriel Leal, a ideia de início da Psyche Aerospace é de resolver os problemas do agronegócio brasileiro. “O brasileiro é muito dependente de tecnologias feitas fora do País. O problema disso é que os drones existentes hoje no mercado são feitos para plantação de arroz na China, de pequenas áreas. E o Brasil tem uma exploração de fazenda de primeira geração, são áreas de pessoas que saíram do Rio Grande do Sul, do Paraná e foram para o Mato Grosso desbravar o Cerrado. Essas regiões são gigantes, a pessoa que comprou e adquiriu essas terras ainda não morreu, não passou para os filhos e não dividiu a terra. Então você tem aquelas terras gigantes de 50 mil a 200 mil hectares. Além do processo em que as famílias acabaram se profissionalizando e virando empresas. O Brasil tem grandes empresas e terras de uma pessoa só, de uma empresa só. O mercado internacional não se preocupou em fazer drone para o Brasil, não se preocupou com o produtor no Brasil, e o que a Psyche faz é resolver o problema deste produtor” explica o CEO.
Portanto, o público-alvo da Psyche Aerospace, por agora, são os grandes produtores. Gabriel pondera que se começassem pelo pequeno produtor, teriam que cobrar um valor mais alto, inviabilizando a tecnologia e a limitando a poucos. Desta forma, do ponto de vista do mercado, o drone é algo totalmente revolucionário no campo e dá a possibilidade de acertar com grande precisão quanto vai ser a produção. Isso dá uma previsibilidade para todos os tipos de coisas, na parte financeira, na parte de venda, etc. “Consigo ver algo totalmente revolucionário em todas as fases do agronegócio e acho que o mundo vai aprender a lição de que o Brasil não é uma terra só de floresta e rio, é uma terra de quem sabe fazer tecnologia de ponta” comenta Gabriel.
DIFICULDADES E DESAFIOS
De acordo com o fundador Gabriel e o diretor Victor, a maior dificuldade enfrentada durante o projeto é que ninguém nunca fez algo parecido, não tinha o que ter de base. Por exemplo, uma Balança de Pid (Controle Proporcional Integral Derivativo), é basicamente a balança que vai definir o valor da correção dos eixos, deixando o drone estável. Esta balança só existe para drone pequeno, então a Psyche teve que desenvolver uma própria. “A gente teve todo tipo de problema, de balanceamento energético, de manufatura, de molde, de carcaça, de peso, de fusão, de motorização de Sistema de Controle, de integração de todos os sistemas envolvidos, tudo que você pode imaginar, porque não existia parâmetro” relata o CEO. Ele complementa dizendo que só há uma maneira de resolver esses problemas: fazendo, errando, anotando, fazendo de novo e não desistindo. “Essa é a mensagem da Psyche: não existe nenhum problema que a gente não consiga resolver”.
Já o diretor de tecnologia, Victor Galvão, comenta: “Nenhum projeto começa idealizado desde o começo, mas com o tempo foi se acertando e muitas coisas foram mudando e se ajustando para chegar no que temos hoje em dia e, com certeza, ainda vai ter muitas mudanças e melhorias para o projeto até a produção em série”. Ele concorda que o mais difícil foi criar a tecnologia de um tamanho jamais visto. E mesmo com todas as dificuldades, o projeto foi feito em tempo recorde.
FUTURO DA PSYCHE AEROSPACE
Após seis meses de desenvolvimento, a empresa realizou um teste de sistema para fazer um primeiro voo seguro. O próximo passo é fazer uma prova de conceito, avaliando o bom funcionamento do sistema drone-beluga, e só depois é feita a produção em larga escala tanto dos drones quanto das belugas.
Os testes para a prova de conceito começam em agosto deste ano. Após a primeira rodada de investimentos, a Psyche Aerospace conquistou a atenção de muitos, entre eles do grande produtor de grãos no Mato Grosso, Gil Pinesso e o Grupo Tereos, um dos maiores produtores de cana-de-açúcar e etanol do Brasil.
Para Gabriel Leal, os próximos passos são muito claros: finalizar todos os testes, aumentar o nível de tecnologia de aplicação embarcada, entregar a melhor tecnologia de aplicação, fazer as provas de conceito e as demonstrações efetivas no campo e, em meados de setembro, fazer a industrialização. “O ano de 2025 será de arregaçar as mangas, trabalhar e enviar os drones para as fazendas no Brasil. Com tudo isso rodando, a startup quer incentivar ao máximo a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias aqui no Brasil, e começar a colocar o pé na área de explorações espaciais, também com tudo vindo do Brasil”.
O CEO completa que sempre teve curiosidade e vontade de fazer algo nesse segmento. “Só que se você for olhar do ponto de vista de levantar capital e incentivos para fazer isso, você tem que ter algo de background, algo que vai te sustentar para que você consiga fazer essas loucuras”.
“O Harpia P-71 é o maior drone agrícola do mundo porque essa é a necessidade do Brasil, como um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Ele é o símbolo da grandeza da nossa agricultura. A partir de muita pesquisa e incentivo, essa tecnologia se tornará acessível a todos os agricultores, favorecendo a produção e o processo de pulverização de defensivos, revolucionando a indústria para sempre”, finaliza.
https://www.youtube.com/watch?v=G5pd8Nrbrbg&t=30s
Vídeo institucional da Psyche Aerospace
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