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Pela Primeira vez na América Latina, Nova Tecnologia de Asfalto é Aplicada em Porto Alegre 

Segundo a Petrobras, o asfalto é um derivado de petróleo, adquirido pelo seu refino. Tem elevada viscosidade, propriedades impermeabilizantes e adesivas, de cor preta ou marrom, composto por asfaltenos, hidrocarbonetos de natureza aromática e resinas. O asfalto é geralmente conhecido por ser o material de pavimentação de ruas e avenidas. Pode ser considerada uma tecnologia revolucionária, afinal, sem a pavimentação, as cidades que conhecemos hoje não seriam do mesmo jeito. 

No dia 1° de abril, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos de Porto Alegre realizou a implementação de uma tecnologia de pavimentação inovadora na Avenida Nonoai entre a Rua São Sebastião e a Rua Campos Velho, no bairro Teresópolis. A nova tecnologia utilizada foi o HiMa (Highly Modified Asphalt) junto com a técnica de asfalto morno. Essa aplicação das duas tecnologias é pioneira em toda a América Latina. 

Pela Primeira vez na América Latina, Nova Tecnologia de Asfalto é Aplicada em Porto Alegre 

HiMa 

O HiMa, asfalto altamente modificado por polímeros (AMP 65/90), é um tipo especial de ligante asfáltico obtido através da adição de polímeros elastoméricos sintéticos. Os polímeros comumente utilizados no asfalto incluem o SBS (copolímero de estireno-butadieno), o SBR (borracha de butadieno-estireno) e o RET (copolímero de etileno-acoplados). O Engenheiro Civil Assis Arrojo, atual Secretário de Obras Urbanas de Porto Alegre e, na época, diretor de Conservação de Vias Urbanas, explica que o asfalto convencional é o Cimento Asfáltico de Petróleo (CAP 50/70), fornecido pela Refinaria Petrobras. Porém, ao longo dos anos se viu a necessidade de melhorar esse CAP, por isso, a prefeitura começou a usar o Asfalto Modificado por Polímeros, melhorando a questão de deformação permanente e a resistência à fadiga. “O Asfalto Modificado por Polímero tem maior elasticidade e mais retorno elástico. Enquanto o CAP 50/70 tem um retorno elástico em torno de 10%, o AMP 65/90 tem um ponto de amolecimento mínimo de 65°C. “Tendo mais elasticidade, diminui a deformação permanente, e também tem maior resistência à ruptura ou trinca por fadiga” relata Assis Arrojo. Importante notar que o HiMa tem um ponto de amolecimento próximo de 95°C, superior até mesmo à especificação do AMP 65/90. 

Já a tecnologia do asfalto morno, é utilizada para reduzir o custo de combustível na usinagem, diminuir a temperatura de produção na usinagem e aplicação e para melhorar a compactação. Também têm ganhos ambientais, como por exemplo diminuir a emissão de gás carbono e expor menos os operários e servidores a altas temperaturas. 

O Secretário de Serviços Urbanos conta que a equipe técnica da prefeitura participou de vários eventos de nível nacional na área de pavimentação para conhecer e implementar as mais novas tecnologias que estão sendo utilizadas dentro e fora do País. Assim, eles fizeram uma parceria com a distribuidora de asfalto, a empresa Greca, que introduz o aditivo, aplica o polímero e faz a modificação do CAP convencional para o HiMa, asfalto altamente modificado por polímeros. O trabalho também foi feito com a Plana Terra, empresa parceira da prefeitura na Operação de Conservação Viária em Porto Alegre. Já o polímero, é fornecido pela Kraton, empresa de importância global na área de polímeros. 

Pela Primeira vez na América Latina, Nova Tecnologia de Asfalto é Aplicada em Porto Alegre 

SOLUÇÃO PARA PLACAS DE CONCRETO

Dia 23 de março, a prefeitura de Porto Alegre aplicou o HiMa num trecho de 250 metros sobre as placas de concreto no corredor de ônibus da Avenida Assis Brasil, entre a rua Mali e o Terminal Triângulo, no bairro Lindoia, para testar o desempenho dessa técnica chamada de “black topping”. O Secretário Assis Arrojo conta que o concreto foi utilizado por ter uma boa performance em resistir ao tráfego canalizado e à deformação, porém, a execução é muito demorada, pois existem muitas etapas no processo e a manutenção das placas de concreto também é muito difícil. Por isso, a utilização do HiMa foi a melhor solução para o problema, pois este tipo de asfalto tem um desempenho semelhante ao concreto em questão de durabilidade, mas a aplicação é mais rápida. “A gente fez a aplicação nas Avenidas Nonoai e na Assis Brasil em um dia, é muito rápido, a aplicação é prática e de menor interferência no trânsito, causando menos problema de manutenção e menor congestionamento” conta o Engenheiro. Já a Engenheira Civil Rafaela Milanez, diretora de Conservação de Vias Urbanas e profissional responsável pelo Laboratório de Solos e Asfalto da prefeitura, acrescenta: “Só o tempo de execução da placa de concreto, para liberar o trânsito, demora em média uns 30 dias, de um dia para 30 é um número muito significativo na interferência que causa para os cidadãos de Porto Alegre”

Além dessas questões, o HiMa também foi a solução para o problema de compatibilidade mecânica entre o novo material e o concreto existente. O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Lélio Brito, coordenador do Lapav (Laboratório de Pavimentação), explica que as placas de concreto já estavam com uma série de defeitos naquele momento e se a prefeitura executasse uma camada de concreto asfáltico convencional em cima de outra camada de concreto, aquelas trintas que já estão presentes acabam se replicando em cima, sendo possível enxergá-las em pouco tempo. Isso acontece por uma questão de compatibilidade mecânica entre os dois materiais. Também existe o problema de cotas, se colocassem uma camada de concreto asfáltico em cima do concreto convencional, precisariam de uma espessura muito grande, e existem bueiros, meio fio, problemas de drenagem. “Por isso, a solução que encontraram foi de usar uma camada asfáltica altamente modificada, o HiMa, um material mais elástico, que permite ser colocado em cima dessas placas de concreto. O HiMa vem justamente como uma alternativa para fazer a aplicação de uma camada de menor espessura, por ser um material mais competente” reforça o professor. 

Pela Primeira vez na América Latina, Nova Tecnologia de Asfalto é Aplicada em Porto Alegre 

APLICAÇÃO DAS TECNOLOGIAS

 

Hoje o HiMa é uma ferramenta utilizada em uma grande gama de aplicações de alta performance. Em Porto Alegre, o HiMa foi aplicado, no final de 2023, na pista do Aeroporto Salgado Filho, pela Fraport. As pistas são pavimentos altamente demandados em termos de carga, e a tecnologia tem grande capacidade de resistência à deformação permanente nas trilhas de roda dos pavimentos.  

Já as misturas mornas são uma tecnologia já aplicada há cerca de dez anos no Brasil e mesmo assim ainda existe uma janela de crescimento muito grande por ser uma tecnologia de simples aplicação e grandes benefícios. O HiMa, no entanto, tem aplicações especiais, como no caso da Assis Brasil e no Aeroporto Salgado filho. Normalmente, por ser um material muito mais caro, ele demanda uma aplicação mais harmoniosa com a demanda. Porém, essa última aplicação na Avenida Nonoai com o HiMa e asfalto morno, foi a primeira aplicação vista na América Latina. 

O HiMa, apesar de ser um material com alto valor agregado, também tem uma expectativa de vida maior, fazendo com que o pavimento dure muito mais, pela qualidade do material. Já o asfalto morno, é uma técnica que diminui as temperaturas de compactação, melhora a homogeneidade da mistura, reduz as temperaturas de trabalho, o que melhora muito a condição da atividade em termos da exposição ao calor dos trabalhadores e também as emissões de poluentes, na medida que são usadas temperaturas mais baixas, lançando assim menos vapores na atmosfera. 

O HiMa e o asfalto morno, além de serem novas tecnologias, são também uma questão de política pública, de trabalhar com projetos de horizontes maiores e pensar em soluções a longo prazo, ou seja, de cenários maiores e intervenções menores. É preciso um aporte financeiro maior no início da obra, mas isso vale a pena no ponto de vista da qualidade do serviço. Hoje, muitas empresas estão preocupadas com o ciclo de vida do asfalto. O tempo que o pavimento demora para se degradar, impacta diretamente nos pilares de governança ambiental das empresas. Quando se utiliza materiais que tem uma janela de durabilidade maior, como é o caso do HiMa, os aspectos do ciclo de vida do pavimento melhoram e, consequentemente, a governança ambiental também. 

FUTURO E TENDÊNCIAS

A aplicação realizada na avenida Nonoai, no início de abril, segundo Assis Arrojo, foi feita a título de avaliação. “Fizemos a aplicação e agora vamos acompanhar o desempenho. Acho que em seis meses já podemos ter os resultados. A gente espera que sejam positivos, para depois seguir aplicando em grande escala e em todas as faixas exclusivas para ônibus de Porto Alegre” prevê o secretário. Com um bom resultado, a prefeitura pretende encaminhar a aquisição do HiMa para aplicação em larga escala nas usinas de asfalto. O município de Porto Alegre tem duas usinas de asfalto, uma no bairro Sarandi e outra na Restinga. De acordo com o Engenheiro Arrojo, “nossas usinas já estão adaptadas para as novas tecnologias de asfalto. Além disso, estão fazendo um upgrade para começar a utilizar o Rap (Reclaimed Asphalt Pavement), resíduo fresado adquirido por meio da recuperação de pavimento, ou seja, um asfalto reciclado. A prefeitura pretende reutilizar esse material na massa asfáltica nova, e também fazer a aplicação a frio”

Sobre a aplicação do HiMa morno, o professor Lélio Brito reitera: “Nós que somos da área da pavimentação, ficamos muito contentes em ver isso como sendo uma aplicação realmente inovadora e felizes também por termos visto isso acontecer antes do cenário que vivenciamos em Porto Alegre. Agora com certeza os técnicos estão com muitos outros problemas para resolver e seria difícil trabalhar nessa solução. Então realmente foi muito importante a aplicação que eles fizeram”

O pesquisador Lélio Brito está na Europa como professor visitante da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. Durante esse período, está fazendo uma série de visitas e uma delas foi ao centro de desenvolvimento tecnológico da Kraton, em Amsterdam. Ele relata que conversou com técnicos especificamente sobre a aplicabilidade do material do tipo HiMa e sobre as melhorias em termos ambientais em função dos maiores ciclos de vida que a tecnologia propõe. Segundo Lélio, a visão deles é que o HiMa deve ter uso crescente tanto nas pavimentações mais especiais, como pavimentações aeroportuárias, quanto em aplicações como essa feita pela Prefeitura de Porto Alegre.  

“Hoje muito se discute o fato de os asfaltos terem origem de uma matriz energética fóssil, ou seja, um material derivado de petróleo. O Brasil, no entanto, tem uma excelente matriz energética se comparado, por exemplo, ao continente europeu. Soma-se ao fato de nosso asfalto vir do pré-sal, tendo características específicas e uma pegada de carbono menos agressiva se comparado ao cenário internacional”, relata o professor. Ademais, muitos órgãos públicos, hoje, enxergam como sendo uma necessidade trabalhar com materiais de melhor qualidade, por isso, tanto as modificações dos asfaltos por polímero quanto a utilização do asfalto morno são um caminho sem volta. 

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